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“Queremos inspirar as pessoas para uma mudança positiva”

Durante a última edição da Cimeira Mundial dos Oceanos, que decorreu em Lisboa, a Turbilhão teve oportunidade de falar com o novo Vice-Presidente, Head of Marketing da Blancpain, Alexios Kitsopoulos. Durante a entrevista pudemos perceber as motivações da marca de alta relojoaria para a conservação dos oceanos, descobrir os projectos que a Blancpain tem actualmente em curso e qual a direcção futura no que diz respeito à protecção oceânica.

 

Por que é a Blancpain tão apaixonada por consciencializar sobre o estado dos nossos oceanos?

A nossa ligação com o oceano é o Fifty Fathoms. O nosso CEO na década de 1950 era um mergulhador e percebeu que precisava de uma ferramenta de cronometragem para debaixo de água. Claro que ele tinha uma bússola e um medidor de profundidade, mas não havia instrumento para cronometrar o tempo. Havia relógios resistentes à água, mas não eram legíveis, eram muito pequenos e a impermeabilidade não era garantida. Foi por isso que criou o Fifty Fathoms. Claro que na época era uma ferramenta de mergulho, não um relógio. Mas a ligação da Blancpain ao oceano começou a partir da paixão do seu CEO na época.

Actualmente, o Presidente e CEO da Blancpain, Marc A. Hayek, é mergulhador e fotógrafo subaquático. Quando assumiu os comandos da marca e trouxe o Fifty Fathoms para o século 21 com os materiais e movimentos de hoje, toda a tecnologia que temos actualmente à disposição, Marc Hayek quis imediatamente acompanhar o lançamento do relógio com iniciativas para revelar as maravilhas das profundezas ao público. Então, a Blancpain lançou o livro Edition Fifty Fathoms, uma plataforma para fotógrafos subaquáticos. Todo o compromisso oceânico da Blancpain que hoje conhecemos começou a partir daí.

 

 

Como é que essa paixão levou ao apoio a expedições científicas como Pristine Seas e Gombessa?

Marc Hayek é a força motriz por detrás de tudo. Ele mergulha há 40 anos, todos os anos. Por vezes chegava a um lugar repleto de tubarões e raias e, no ano seguinte, não havia nada. Então Marc Hayek percebeu que alguma coisa tinha que ser feita. Por coincidência, em 2011, conheceu Laurent Ballesta, na Feira de Basileia, que lhe falou do Projecto Gombessa. Explicou a Marc Hayek que Gombessa era um peixe muito antigo, da época dos dinossauros, que vivia a grandes profundidades e que tinha um projecto para fazer uma expedição e ver estes peixes no seu habitat natural e descobrir como se comportam, o que comem, etc. A Blancpain resolveu então apoiar essa expedição e assim nasceu o projecto Gombessa.

A National Geographic também nos abordou porque procuravam um patrocinador para iniciar a expedição Pristine Seas. Tratava-se de ir a locais longínquos, sem pesca nem pressão humana, para os estudar, saber o que é um mar pristino de modo a proteger o oceano. Este projecto trouxe resultados surpreendentes. Descobrimos que, no oceano, a pirâmide da diversidade (poucos predadores no topo) está invertida, o que significa que, se para protegermos o oceano, tivéssemos tentado replicar a pirâmide da diversidade “terrestre” teríamos destruído o oceano.

Dentro do projecto Pristine Seas, a Blancpain apoiou 14 grandes expedições com cientistas e 12 delas resultaram em áreas marinhas protegidas. Através deste programa, apoiámos a criação de 4,7 milhões de quilómetros quadrados de oceano protegido. A questão é que nem todos estão totalmente protegidos, e isso é uma frustração.

A parceria com o The Economist surgiu praticamente no mesmo período e a Blancpain tornou-se patrocinadora da World Ocean Summit desde a primeira edição.

 

 

O que estas colaborações lhe ensinaram sobre o que a Blancpain pode fazer na preservação dos oceanos?

Muitas coisas e diversas. Ou seja, quando mergulhamos, podemos optar por viajar e ir para um resort ou, se somos mergulhadores apaixonados, podemos tentar ir para os lugares de topo do mergulho. Por exemplo, há lugares incríveis na Polinésia Francesa, onde não existem resorts de 5 estrelas, mas é um dos lugares mais incríveis para mergulhar. E aí, fora do “ambiente controlado” dos resorts, conhecemos verdadeiramente o local, as pessoas nas aldeias, temos oportunidade de discutir com elas sobre a conservação.

É que a ideia que temos generalizada de que a conservação e os negócios, a economia são opostos não é bem verdade. Os habitantes da zona, pescadores, etc., sabem que se protegerem uma determinada área, a zona imediatamente ao lado da protegida terá mais peixe e eles poderão pescar muito mais do que antigamente em toda a zona.

Assim, muitas vezes, os próprios locais pedem para criar estas zonas protegidas porque sabem que o negócio deles pode melhorar. Desta forma, trabalhamos juntos e actualmente a Blancpain apoia projectos locais na Polinésia Francesa, nas Filipinas e em outros lugares do mundo. Ajudamos os habitantes com meios, enviamos cientistas e é um trabalho em curso, permanente, em que fornecemos instrumentos também aos cientistas das universidades locais. Ou seja, trata-se de um programa que é de longo prazo.

Desta forma, ao invés de falarmos apenas de enormes áreas protegidas, neste momento apoiamos pequenas reservas marinhas costeiras, cujo patrulhamento e controlo é realizado pelos moradores. É o jardim deles, por isso protegem-no. Aliás, é o principal meio de subsistência deles, por isso eles já sabem há gerações gerir de forma sustentável o oceano. Muitas vezes nós temos planos muito complicados, mas, na verdade, no campo, os locais já sabem como fazer essa gestão.

 

 

A Blancpain enfatiza a necessidade de protecção dos oceanos com uma imagem positiva e bonita, em vez de uma imagem provocativa ou negativa. Qual é a justificação para tal abordagem?

Queremos inspirar as pessoas para uma mudança positiva. Claro que é necessário mostrar a realidade e dizer não façam isto ou aquilo, mas já há muitos outros a fazê-lo e o problema é que se só mostrarmos a parte negativa, o público pode achar que é tarde demais, logo não há esperança façam o que fizerem. Então, o que a Blancpain pretende é mostrar o lado positivo, para dar esperança e fazer com que as pessoas queiram proteger esses lugares. Não é tarde demais. O oceano recupera muito rapidamente se deixarmos. O problema é a pressão que colocamos nas nossas actividades, que é enorme, e por isso não damos uma chance ao oceano para recuperar.

 

 

Quais os planos e orientações futuras da Blancpain em relação à conservação dos oceanos?

Na última Cimeira Mundial dos Oceanos apresentámos, em parceria com o The Economist, o programa Beyond the Surface. Trata-se de uma ferramenta para avaliação da eficiência das reservas marinhas, que pretende fornecer os critérios para avaliar se uma determinada zona é uma área marinha protegida eficaz ou não. A partir dos dados recolhidos podemos comunicar quais as políticas e trabalhos de protecção que funcionam efectivamente e inspirar outros locais a segui-los. Desta forma, podemos economizar algum tempo, ser mais eficazes, não cometendo os mesmos erros e adoptando as práticas que funcionam efectivamente. Claro que não é uma ferramenta que esteja pronta e fechada. A ideia é avaliar várias reservas marinhas, comparar resultados e ajustá-la para a tornar cada vez melhor e mais útil.

Por outro lado, a Blancpain tem também um programa incrível com a PADI e o que fizemos foi criar a maior comunidade de mergulhadores comprometidos com a conservação. O programa chama-se Adopt the Blue e disponibiliza um mapa online que indica locais de mergulho em todo o mundo. Actualmente existem mais de 2000 destes locais identificados no mapa e, em cada local, existem pessoas, sobretudo membros de clubes de mergulho ou instrutores, que afirmam adoptar aquele local, ou seja, que estão disponíveis para a conservação.

Desta forma, imagine que há um cientista aqui na Universidade de Lisboa, que precisa da medição da temperatura do oceano de um determinado local durante um ano. Basta entrar em contacto com essas pessoas que estão in loco e pedir essa informação, que de outra forma não conseguiria obter.

Depois, a Blancpain está cada vez mais a procurar desenvolver uma série de projectos junto de pequenas comunidades locais, que implicam as pessoas, pessoas essas que muitas vezes não têm uma plataforma de rede.

 

 

Existem critérios internos para determinar que tipo de projecto a Blancpain apoia?

Na realidade não é muito formal. Muitas vezes conhecemos pessoas através de parceiros existentes. Não escondo que todas as semanas temos propostas de projectos e é claro que não apoiamos todas. Há muitos projectos que nos chegam e nós eliminamos à partida porque olhamos para a equipa e verificamos que têm 20 pessoas no marketing e comunicação, um cientista e um mergulhador. Tentamos apoiar projectos compostos por pessoas que são apenas apaixonadas pela causa, onde podemos efectivamente fazer a diferença.

Na conservação dos oceanos, as vendas não são o critério que nos move. É a paixão pelos oceanos, a oportunidade de utilizarmos o nosso nome e força para fazer a diferença, ao mesmo tempo que também acabamos por ter maior visibilidade graças aos projectos em que estamos envolvidos.