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Onde a ria se dá ao mar

O primeiro hotel de cinco estrelas de Aveiro fica num palacete do século XVIII e prosa sobre Eça de Queirós. Vamos dormir sobre isso? 

 

Há o quarto com vista sobre a cidade e o quarto com vista para Eça. É o que me acontece quando abro a janela do 204 do MS Collection, o primeiro hotel de cinco estrelas de Aveiro. Lá em baixo, no pátio, a obra de Vhills “Scratching the Surface – Eça”. Um mural onde se reconhece o busto do escritor maior da Língua Portuguesa. 

 

 

“Deve olhar-se o Vhills como se fosse mar ou montanha”, diz quem percorre os corredores do hotel diariamente. Ao lado da obra está uma placa elucidativa com o título “Essa é que é Eça”, com uma breve descrição que explica que o pai do escritor habitou o palácio Valdemouro que é hoje a morada do hotel. O edifício, com maneirismos aristocratas, destaca-se no bairro da Beira Mar, entre coloridos estendais e o grito das gaivotas. 

 

 

Por impulso vou buscar os Maias à biblioteca onde nos foi servido um Porto de honra à entrada. Porto e Eça só pode correr bem. Mas não é desta que me entrego a leituras. Ricardo Soares, o nosso anfitrião, vai levar-nos à Costa Nova para um verdadeiro banquete. “Eça passava férias na localidade onde vamos jantar”, esclarece com entusiasmo. 

 

 

Em tons de rosa, o entardecer está de sonho. Vemo-lo no jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré. Aqui pode entrar na história portuguesa dos bacalhoeiros através do Navio Museu Santo André, que é um depósito de saberes sobre a pesca do bacalhau. Esta é talvez a grande característica do hotel: associar ao luxo o luxo do que é local.  

A primeira surpresa acontece na Canastra do Fidalgo. A cozinha de Leandro Mota navega ao sabor do que se “apanha” na lota. No dia do nosso repasto pode dizer-se que a pesca foi abençoada. Antes fez uma corrida de dez quilómetros pela Costa Nova. Em cima da mesa há pão quente saído do forno e umas ameijoas acabadas de apanhar na ria. Só levam alho, limão, azeite e coentros. Mas o protagonista da noite é um atum que foi ceviche e o melhor carpaccio de que reza a história. Outra história digna de apontamento é o bolo de bolacha. Um caso sério que já foi à televisão e tem como fã a humorista Joana Marques. 

Leandro Mota é filho de peixeira da Costa Nova e sabe melhor que ninguém analisar a frescura do peixe. Além dos peixes comuns, na sua montra encontram-se rodovalhos e rascassos. 

 

A nossa próxima paragem acontece nas Caves Messias. Neste mundo de tuneis por descobrir, Joana Castilho desfia a história deste pequeno empório fundado por Messias Baptista em 1926 na Mealhada. “Vendemos experiências de enoturismo”, avisa. No escuro das caves há aranhas albinas, entre a variada biodiversidade que contribui para que este seja um dos espumantes mais requisitados da região. 

Fornecido pelo restaurante Mugasa, o leitão é um bom conselheiro para provar os vários espumantes da casa. Aliás, “o leitão é, na verdade, o momento sagrado de qualquer celebração da região da Bairrada”, conta Joana. Os homens bebem espumante e assam o leitão, enquanto as mulheres tratam do resto. “Servir é uma arte”, conclui Ricardo Soares. 

E, de facto, esta é uma terra de artistas. Terra bendita, também, já que desaba uma trovoada enquanto estamos entretidos com o repasto e o passeio decorre sem percalços ou pés ensopados. Se me pedissem uma palavra para descrever as Caves Messias ela seria “autenticidade”. 

 

De volta a Aveiro, a digestão acontece a bordo de um moliceiro. Nestes caminhos líquidos que serpenteiam a cidade importa salientar que Aveiro não é Veneza. É sal, salicórnia e Arte Nova. Chegado à cidade pela mão da burguesia no início do século XX, o movimento Art Noveaux é um postal de Aveiro que imprime rendilhados criativos às fachadas. 

 

 

Criatividade é o que não falta ao chef Rui Paula, consultor do restaurante Prosa, onde “escreve” como ninguém. A experiência num restaurante fine dining parece, à partida, muito sofisticada, mas com o chef portuense nunca nos desviaremos das fortes raízes portuguesas, onde guarda com ternura a sua costela transmontana. 

 

 

Depois das cortesias do chef em forma de corneto de bacalhau e croquetes de porco bísaro, segue-se o jantar. À mesa desfilam produtos locais - lula em forma de espetada ou enguia em forma de rabanada. Antes do porco bísaro, a afamada caldeirada com pargo, pregado e camarão tigre. Tudo bem regado com espumante Quinta dos Abibes. Ao longo do jantar as papilas gustativas compreendem a razão pela qual o Prosa é recomendado pelo Guia Michelin. Como diz o chef, “aquilo que se quer é alta categoria, boa apresentação e  que seja bom”. Missão mais que cumprida.

 

 

Nesta viagem faltou uma incursão ao Spa Moments. Com piscina aquecida (29 graus) - cujo teto em vidro é o fundo da piscina exterior -, sauna, jacuzzi, banho turco e duche sensorial, o spa foi como uma miragem no deserto. Assim como o livro à beira da cabeceira da cama ficou por ler. Um par de boas razões para voltar em dias mais solarengos. 

 

 

No Jardim de Inverno, recentemente inaugurado, escrevemos no guardanapo de papel o “v” de voltar. Isto depois de tomar o pequeno almoço. Além do colorido e variedade do buffet há um manancial de opções feitas na hora como panquecas ou Eggs Benedict. 

 

 

Quanto aos Maias e respectivos episódios da vida romântica terão que ficar para outras núpcias. Ou talvez não, porque no MS Collection é possível dormir nos quartos Palacete Premium: Carlos da Maia e Maria Eduarda e escrever a sua própria história.