Na Quinta de Lemos vale a pena gastar aquilo que temos de mais precioso: o tempo.
“A nossa filosofia de vida é partilhar o que gostamos”, explica Pierre de Lemos, director geral da marca têxtil Abyss & Habidecor. Foi por causa deste sentido de família e de partilha que em 1997 o pai Celso de Lemos comprou uma vinha em Passos de Silgueiros, no distrito de Viseu. A produção de vinho começou a partir de uma quimera. Apetece citar Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
A intenção do patriarca era, apenas, criar um vinho de excepção para dar a provar à família e aos amigos espalhados pelo mundo. Mas como tudo o que faz é bem feito, transformou um hobbie num caso sério. Ou seja, numa gama de vinhos premiados nos quatro cantos do mundo.
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Quem estiver ligado ao contexto vitícola já provou com certeza um vinho da marca Quinta de Lemos. Quem não provou devia fazê-lo. De preferência de forma lenta.
Comer e chorar por mais
Com uma vista desafogada para a vinha, o Restaurante Mesa de Lemos só por si merece visita e pode acrescentar-se que é “a” experiência. Irrequieto por natureza o chef Diogo Rocha concretizou o feito de dar a cara pelo único restaurante no centro do país com uma Estrela Michelin (conquistada em 2019) e mais recentemente a Estrela Verde à conta de uma cozinha sustentável.
Na carta de Verão permanecem o cabrito e o bacalhau. As novidades são o pinhão, o espargo, o alecrim e tudo o que se defina como “cozinha de montanha.” O que vem para a mesa tem influências da floresta e dos produtos da estação que viajam da horta para o prato. Na equação pesa um elogio aos pequenos produtores. “Queremos, por exemplo, que o cliente saiba valorizar a vida dura de um pescador”, defende. À mesa desta casa de portas abertas desde 2014, é fácil professar o lema que deverá ser a sustentabilidade. Os sabores de cada prato são harmonizados com um vinho diferente. Da casa, claro. Há dois menus à disposição: o do chef (135€ + 50€ com vinho) com oito momentos e o de Lemos (105€ + 35€ com vinho) com seis momentos. O palato da Turbilhão viajou neste último menu e a experiência foi uma autêntica explosão de sabores. Os vinhos eleitos a cada passo, fazem sobressair o sabor de cada prato.
Com comensais de várias latitudes, o restaurante e o edifício de Lemos que o acolhe são de irrepreensível bom gosto. A assinatura é do Atelier de arquitectos Carvalho Araújo e o design de interiores da madeirense Nini Andrade Silva.
Dar de beber à alegria
Para ficar a conhecer um pouco mais sobre estes novos produtores do Dão é imprescindível visitar a adega de onde saem estes néctares dos deuses. Desta vez é Manuel de Lemos, na casa dos 20, que nos acompanha. O entusiasmo do neto do patriarca é no mínimo enternecedor. Manuel tem planos para o futuro, mas todos os planos desaguam na Quinta de Lemos. Conta o jovem empresário que “o logotipo da quinta segundo o avô são as quatro fases da lua.”
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O neto afiança que também podem ser as monocastas em cima e os blends em baixo. Mas comecemos por ordem cronológica. Contador de histórias nato, o nosso interlocutor assegura que se perdeu um grande futebolista para nascer um grande visionário. Celso de Lemos foi estudar para a Bélgica nos anos 60. Foi lá que se formou, que conheceu a mulher Paulette. Foi também entre a Bélgica e a França que fez o estágio. Voltou para Viseu que considera a “capital de Portugal” e começou a fazer tapetes na garagem da mãe. Há mais de 40 anos. Com quatro funcionários nasce a Abyss & Habidecor, fábrica de têxteis de luxo. Mas isso é outra história.
“Nasci em 2000, no mesmo ano que o meu avô investiu aqui na quinta”. Com 50 hectares a quinta fica em pleno Vale do Dão que é a mais antiga região de produtores de vinho em território nacional. O clima, o terroir, e as castas autóctones dão origem a vinhos únicos. Rodeada pelas serras da Estrela, Caramulo, Buçaco e Nave a vinha desenvolve-se em solos graníticos e arenosos, recebendo influências atlânticas que se refletem em humidade e frescura. A produção do vinho é amiga do ambiente. A vinha está sujeita às variações do clima, logo cada vinho tem um caracter único. Enquanto Manuel nos guia pelas várias dependências da Adega explica: “são seis mil plantas por hectare e a colheita é toda manual, feita por senhoras dos 50 aos 70 anos que adoram a terra”.
Fiel às práticas ancestrais a quinta construiu em 2015 lagares em granito para a pisa da uva a pé. Os vinhos ficam em estágio cerca de seis a sete anos. Os de 2015 por exemplo só saíram agora para o mercado prontos para o consumidor final. “Deve ser por isso que os nossos vinhos não dão ressaca” brinca.
Ouro líquido
É com Hugo Chaves que nos sentamos à mesa a fazer uma invulgar prova de azeite. Dos 50 hectares da quinta, sete são de olival. Ao todos são 2500 oliveiras, que se distribuem por cinco variedades: Galega; Cobrançosa, Cornicabra, Arbequina e Verdial. Os sabores variam. Do mais suave ao mais picante. As mesmas senhoras que fazem a vindima estão encarregues de fazer a colheita da azeitona manualmente. Na hora da despedida brindamos com um espumante branco Quinta de Lemos Gégé. Acompanham um camarão tigre e uns espargos da horta, feitos na hora por Hugo Chaves. Em cima da mesa fica o verbo voltar.
As dicas de Pierre de Lemos
Metade português, metade belga Pierre graceja que tem “altura belga e sangue português”. Ninguém melhor que ele para dizer quais os caminhos para viver a quinta em todo o seu esplendor. “É indispensável visitar a adega com o meu sobrinho Manuel, beber um copo de vinho com o Hugo Chaves e provar o azeite com a produtora de azeite Cátia Correia”. Escusado será dizer que o remate de tudo isto acontece no Mesa de Lemos onde todas estas áreas se casam. O vinho, o azeite e a cozinha sofisticada do chef Diogo Rocha. Mediante marcação prévia podem realizar-se também piqueniques, eventos e caminhadas na vinha.
A Adega
Segunda a sexta-feira 9h-17h | sábados 13h30-19h
+351 961 158 503 | info@quintadelemos.com
Restaurante Mesa de Lemos
Quarta e quinta-feira 20h-24h | sextas e sábados 12h-15h e 20h-24h | Domingos 12h-15h
+351 961 158 503 | reservas@mesadelemos.com