A ligação entre a relojoaria e a água remonta ao nascimento do relógio de pulso. E se, hoje, o tempo e este elemento convivem lado a lado nas profundezas, a verdade é que foi necessário um longo percurso para alcançar esta relação perfeita.
O século 20 assistiu à passagem do relógio de bolso para o de pulso, uma transição “difícil”, cuja aceitação se deveu, sobretudo, às melhorias na durabilidade deste tipo de relógios. Os primeiros inimigos dos modelos de pulso traduziam-se na água, no pó, nos choques e no magnetismo e foi sobretudo durante os anos vinte e trinta que ocorreram avanços da engenharia na luta contra estas forças. O mais notável avanço foi, talvez, o melhoramento da caixa do relógio para que pudesse selar. Ao fazê-lo, o mecanismo interno do relógio não seria afectado pela água ou pó.
A Omega e a Rolex foram pioneiras na luta contra a água. No início dos anos 20, o suíço Francis Baumgartner produziu caixas, cuja ideia envolvia selar a caixa abrindo-a ao meio e enroscando depois as duas partes, rodando em direcções opostas. O movimento e mostrador eram então encaixados dentro de um anel que aparafusava na moldura da caixa. Muitas empresas usaram estas caixas nos anos 20, incluindo a Omega e a Longines. Contudo, estas caixas não selavam bem na abertura da coroa. Para o resolver, dois relojoeiros suíços, Paul Perregaux e Georges Peret, submeteram uma patente suíça para um sistema de coroa aparafusada, em 1925. Hans Wilsdorf, da Rolex, negociou para que a patente de Perregaux e Peret lhe fosse atribuída, criando o Rolex Oyster.
A Omega teve uma aproximação radicalmente diferente. Em 1932, apresentou o Marine, um relógio que basicamente tinha uma caixa dentro da outra. Em 1936, um investigador aquático, Charles William Beebe, mergulhou à profundidade de 14 metros com um Omega Marine agarrado ao seu fato de mergulho.
Durante a II Guerra Mundial, e respondendo às necessidades dos militares da Marinha americana, a Hamilton criou o Sea Bees, um relógio de mergulho com um mecanismo especial de coroa dupla para tornar o relógio impermeável à água. Estes modelos permitiam que os mergulhadores descessem a uma profundidade de 50 metros e monitorizassem o tempo restante no seu fornecedor de ar.
Os mergulhadores da Marinha Italiana e Alemã adoptaram uma abordagem diferente, utilizando um relógio bem selado que depois tinha uma protecção especial para manter a coroa pressionada contra a caixa. Originariamente, os relógios Panerai (marca fornecedora da Marinha Italiana) possuíam coroas aparafusadas, contudo, o dar corda constante causava deterioração na resistência à água. A Officine Panerai resolveu o problema através de uma alavanca de pressão na coroa; esses relógios funcionavam a uma profundidade de 30 metros.
A evolução decisiva de relógios de pulso mais resistentes à água poderá ter resultado de um marketing inteligente e da mudança do estilo de vida dos civis. Em 1953, o Fifty Fathoms da Blancpain chegou ao mercado e atingiu reconhecimento ao ser usado por Jacques Cousteau no filme “O Mundo do Silêncio”. Mais tarde, a marca lançou também os modelos Aqualung e Bathyscaphe. Um ano depois do Fifty Fathoms, e numa altura em que se desenvolviam as botijas de oxigénio para uso subaquático, a Rolex introduzia no mercado o Submariner.
Seguindo a “onda” de lançamentos destas duas manufacturas, muitas outras empresas produziram relógios de mergulho. Quase todas as marcas suíças famosas se seguiram nos anos cinquenta e sessenta. Foi o caso da Omega, que lançou o seu primeiro Seamaster de mergulho, o 300 (que tinha uma resistência à água a 200 metros), em 1957, e, seguindo o sucesso desse modelo, introduziu muitos outros.
Durante os anos sessenta, o trabalho comercial nos oceanos e mares criou as organizações de mergulho profissionais que precisavam de relógios concebidos para conduzir operações de mergulho seguras a grandes profundidades. Isto levou marcas como a Rolex e a Omega a desenvolver os primeiros relógios “ultra resistentes à água”. Este é o caso do Rolex Sea-Dweller Submariner 2000 (610 m) e do Omega Seamaster Professional 600m, também conhecido como Omega PloProf. A evolução continuou através dos anos setenta e oitenta, reflectindo a demanda do público por relógios desportivos com altos níveis de resistência à água.
Hoje em dia, os relógios de mergulho continuam a usufruir de imensa popularidade e todas as marcas que se prezam contam, entre as suas referências, com um relógio submergível, embora apenas alguns eleitos se possam “gabar” de reunir as qualidades necessárias para ostentar o certificado de relógio “apto” para mergulho.
A estanquidade e a utilização do relógio
A estanquidade é a capacidade que o relógio tem de ser impermeável ao contacto com a água. Por norma, esta estanquidade é apresentada (gravada no fundo do relógio) tendo em conta a relação entre a pressão medida em Bar ou ATM e a profundidade.
A estanquidade não pode ser permanentemente garantida devido a diversos factores, como o envelhecimento normal dos vedantes, a exposição a agentes externos (cosméticos, água salgada ou cloro) ou em resultado de danificações na zona de estanquidade provocadas por um choque. Para garantir esta característica, os relógios devem ser submetidos a um teste de estanquidade anual.
Assim, a ilustração que se segue, é apenas uma referência, partindo do princípio de que o relógio apresenta todas as características de estanquidade invioláveis:
Hermeticidade a 30 metros (3 Bar)
Resiste à água da chuva ou salpicos acidentais, mas não a um duche
Hermeticidade a 50 metros (3 Bar)
Apropriado para um duche ou para nadar em águas pouco profundas
Hermeticidade a 100 metros (10 Bar)
Apto para nadar.
Hermeticidade a 300 metros (30 Bar)
Apto para mergulho ligeiro.
Hermeticidade até 500 metros (50 ATM)
Perfeito para mergulhar e para profundidades maiores.