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Versatilidade no pulso

Nascido na corte francesa e trazido para a ribalta pelos militares que combateram na I Guerra Mundial, o relógio desportivo é, hoje, um item indispensável na colecção de qualquer amante da relojoaria. Mas o que é afinal um relógio desportivo e qual a sua evolução até à actualidade?

 

Um relógio desportivo é essencialmente uma peça do tempo robusta, adequada para uma variedade de desportos e actividades físicas. Este tipo de relógio é concebido para resistir a choques, sendo, por isso, tendencialmente produzido com materiais resistentes a pancadas, riscos e quebras. A resistência à água suficiente para actividades como a natação, o snorkeling e, nalguns casos, o mergulho, é, por norma, outra das características do relógio desportivo. A juntar a este atributo, funções como alarme, taquímetro, régua de cálculo ou cronógrafo são também comuns neste tipo de peça do tempo.

No que ao design diz respeito, nem sempre um relógio desportivo apresenta um look “musculado” e impactante, podendo tratar-se de uma peça sóbria e elegante, não deixando por isso de congregar as principais características que o tornam adequado à prática de desporto e actividades físicas radicais. Por exemplo, se compararmos o design de um Audemars Piguet Royal Oak ao de um Richard Mille, as diferenças são abissais. Contudo, ambos entram na categoria de relógio desportivo.

 

 

O nascimento do relógio desportivo

A história dos relógios desportivos começa, apropriadamente, com uma corrida de cavalos. Em França, o rei Luís XVIII era um aficionado deste tipo de desporto. Querendo saber com exactidão quanto tempo demorava cada corrida, o monarca incumbiu o relojoeiro do reino, Nicolas Rieussec, da invenção de um aparelho que pudesse ser accionado e parado, de modo a medir um período especifico de tempo decorrido. O resultado foi o primeiro cronógrafo desportivo da história.

 

IWC - Chronograph Spitfire
IWC - Pilot's Watch Automatic Spitfire
Monblanc - Automatic Chronograph

 

De salientar que o mecanismo desenvolvido por Rieussec foi o primeiro cronógrafo desportivo da história e não o primeiro cronógrafo. De facto, até 2013, pensava-se que o relojoeiro tinha sido o inventor desta complicação. Contudo, descobertas recentes apontam Louis Monet como o responsável por esta invenção, em 1816, com o objectivo de medir o tempo durante observações astronómicas.

O primeiro cronógrafo de pulso surgiu quase 100 anos depois de Moinet e Rieussec terem criado os seus aparelhos de cronometragem. Tratava-se do calibre 13.33Z produzido pela Longines, em 1913, um cronógrafo monopulsante preciso ao 1/5 de segundo. Com esta invenção, a marca criou um dos elementos que seriam tecidos nos relógios desportivos modernos: complicações que têm aplicação directa no empenho desportivo. A Longines tinha também uma resposta para o problema sobre como cronometrar múltiplos eventos numa mesma corrida e, em 1936, a marca lançou o primeiro cronógrafo flyback do mundo.

 

 

A importância militar

Antes da I Guerra Mundial, os relógios de pulso eram uma raridade. A durabilidade – um pré-requisito para um relógio desportivo – era também um dos grandes problemas dos primeiros relógios de pulso. E se as marcas que criaram os primeiros modelos de pulso tinham descoberto como inserir o delicado mecanismo de um relógio de bolso numa caixa pequena e usável, a questão sobre como tornar essa caixa à prova de choques ainda não tinha sido respondida. Então, a I Guerra Mundial aconteceu e os relojoeiros mundiais foram forçados a, rapidamente, resolver a questão.

[emaillocker]Num campo de batalha da I Guerra Mundial, os militares recebiam informação vital sobre a localização e hora das manobras na linha da frente. De modo a assegurar que essas manobras ocorriam à hora correcta, era necessário os soldados usarem relógios. E esses relógios tinham de ser consultados de forma célebre sem a necessidade de usar as mãos (ocupadas com a espingarda ou a baioneta). Desta forma, os relógios que já não podiam estar escondidos no bolso de um colete e tinham que ser capazes de aguentar os rigores de uma vida nas trincheiras: pancadas contra os suportes de madeira da trincheira, exposição a lama e água ou o coice de uma arma de fogo.

 

PORSHE DESIGN - Chronotimer Series 1 Pure Blue
ZENITH - PILOT Extra Special Blue
CARTIER - Cronógrafo Santos de Cartier
CARTIER - Cronógrafo Santos de Cartier

 

Na realidade, os relógios de pulso masculinos já tinham sido utilizados algumas vezes antes da I Guerra Mundial, tendo inclusive servido no campo de batalha. Na Guerra Boer, por exemplo, os soldados prenderam os seus relógios de bolso ao pulso, através de correias em pele. E o Santos de Cartier, criado para que o lendário aviador Alberto santos Dumont pudesse ver as horas enquanto pilotava, existia desde 1904. Mas foi nas trincheiras da I Guerra Mundial que o design realmente se afirmou e universalizou, nomeadamente a utilização de vidro inquebrável ou de material luminescente.

Estes relógios “de trincheira” tiveram, assim, um papel crucial na história dos relógios desportivos, não só no campo de batalha, mas também para todos os que, em casa, assistiram ao desenrolar da I Guerra Mundial. É que, se estes modelos eram bons o suficiente para resistir às adversidades do campo de batalha, também o seriam para o dia-a-dia do comum dos mortais. E, com a ajuda do marketing, os relógios de pulso desportivos entraram definitivamente no quotidiano do público.

Esta combinação entre marketing e testes extremos em campo mudou a paisagem da relojoaria para sempre. E o marketing continuou a desempenhar um papel vital na história dos relógios desportivos. De facto, pode-se quase dizer que a transição do relógio “de trincheira” para o desportivo aconteceu quando as marcas de relojoaria disseram ao público que os novos relógios robustos eram a “escolha” dos desportistas e se começaram a associar a eventos desportivos amplamente reconhecidos. A Omega, por exemplo, tem sido o cronometrista oficial das Olimpíadas desde os anos 1930.

 

 

Uma revolução chamada Royal Oak

Em 1972, nascia, pela mão de Gerald Genta, o modelo que veio revolucionar o design dos relógios desportivos de luxo: o Audemars Piguet Royal Oak. Com uma arquitectura reveladora – não no sentido de ser esqueletizada, mas porque os parafusos que fixam a luneta à caixa faziam parte do design, não estando, como habitualmente, escondidos – e uma pouco convencional luneta octogonal, o Royal Oak definiu definitivamente o design dos relógios de luxo desportivos durante 30 anos.

 

AUDEMARS PIGUET - Cronógrafo Royal Oak Offshore

 

“O ROYAL OAK VEIO REVOLUCIONAR O DESIGN DOS RELÓGIOS DESPORTIVOS DE LUXO”

 

Actualmente, a luneta octogonal do Royal Oak é uma visão comum numa sala cheia de amantes de relojoaria, mas, em 1972, foi uma verdadeira sensação. Tratava-se de uma peça do tempo que, embora sóbria, era angular, musculada e decididamente diferente, que marcou a história da relojoaria. De facto, se atentarmos nos relógios desportivos modernos, podemos encontrar traços e peculiaridades que remetem para o design do Royal Oak. O Hublot Big Bang, por exemplo, arredonda as asas e luneta angulares do Royal Oak para dar vida à caixa suave e à luneta “vigia”, enquanto os parafusos estriados revelados em quase todos os Richard Mille são uma homenagem directa ao revolucionário mostrador de Genta.

 

 

Desportivos do século XXI

Carbono NTPT, quartzo TPT, Alusic. O advento da utilização de materiais leves e fortes, capazes de proteger o mecanismo do relógio e enfrentar todo o tipo de desportos e actividades extremas é a grande tendência do século XXI, no que ao universo das peças desportivas diz respeito. Na dianteira deste “fenómeno” estão marcas como a Richard Mille, a Hublot ou a Roger Dubuis.

Hoje em dia, o material de que o relógio é feito pode ser tão importante quanto a sua precisão ou o quão complicado é. Os materiais que aliciam os fãs de relógios desportivos não são apenas ouro. O proprietário do relógio extremo quer materiais extremos: titânio, aço, carbono, cerâmica, borracha…

 

ROGER DUBUIS – Excalibur Spider Pirelli
HYT – H1.0 Greenfluid

 

Este tipo de peça do tempo é também camaleónica e pode ser encontrada em qualquer ambiente, desde os courts de Wimbledon, às curvas do Circuito de Mónaco, passando pelas salas de reunião dos grandes gestores. Sendo capazes de realizar proezas mecânicas incríveis, surgem também nos pulsos de atletas vitoriosos e de fãs de actividades radicais. Versatilidade é a palavra-chave. Embora suportem choques, pressões, quedas e solavancos, os relógios desportivos também brilham quando usados no quotidiano, seja em ocasiões mais informais ou de negócios. Essa polivalência talvez seja o motivo principal pelo qual os relógios desportivos se tornaram tão populares.