O vai e vem de uma onda é a melhor metáfora para Ibiza. É redutor falar apenas da noite, se os dias podem ser igualmente belos. Mostramos-lhe uma Ibiza culta, orgânica e hippie chique.
A expressão latina “Ad Lib” significa improvisar, e descreve como se vive em Ibiza. Nesta ilha, conhecida pela movida noturna, sabe-se por onde se começa, mas nem sempre como e onde acabará o dia.
O passeio principia na Dalt Villa. Nas ruas caiadas da cidadela ninguém dirá que percorremos uma das ilhas mais antigas do Mediterrâneo. Milhares de anos antes dos hippies a escolherem como casa, fenícios, cartagineses, romanos e árabes já se tinham ali estabelecido. No século XIII foi a vez do reino de Aragão trazer o cristianismo até estas paragens. Os vestígios de civilizações antigas são muitos, mas na Dalt Villa – cidade alta – é difícil fugir às distrações mundanas. Há esplanadas cheias, a música a cheirar a Verão e, sobretudo, uma Torre de Babel de línguas que nos fazem sorrir sem saber porquê.
Fundada por fenícios no século VII a.C., Ibiza converteu-se numa cidade púnica e, mais tarde, na cidade islâmica de Madina Yabisa. Conquistada pelos catalães e pela coroa de Aragão, foi fortificada com muralhas e baluartes. Em 1999 a Dalt Villa foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO.
Enquanto processamos esta aula de história, jantamos no Up, restaurante situado no rooftop do Hotel The Standard. Dali pode ver-se a cidade de um ponto alto, tal como faziam os antigos. Com o pôr do sol, o casario adquire tons dourados e ficamos felizes só pelo facto de respirarmos. À mesa fundem-se as cozinhas mexicana e japonesa. À sobremesa o churro adoça a boca e a vida.
Apesar de velhinha, Ibiza mantem-se jovem de espírito. Entre ruelas e becos sem saída encontramos bares com nomes tão apelativos como La Bendita ou o Corsário, que lembram a época dos piratas. Há pufes a pedirem que se pare para cañas ou tapas.
A seguir aos piratas a ilha foi descoberta por intelectuais e artistas. De Albert Camus a Truman Capote. Mike Oldfield parece que se inspirou no ambiente selvagem da ilha para compor a segunda edição de “Tubular Bells.”
Juntos há 50 anos, Traspas (Jesus) e Torijano (Isabel) espelham este tempo em que o jet set mundial fugia para Ibiza para se descalçar e viver de forma simples. No atelier-loja junto à catedral vendem postais, poemas, roupa e até artefactos de magia branca.
Com o mar na mira seguimos para uma viagem no tempo. É o que acontece quando se entra na igreja de Puig de Missa, en Santa Eulària. Construído no cimo de uma colina, o edifício, que abre portas em 1568, é um exemplo de um templo fortaleza. A proposta é ir a pé até ao alto da colina, apreciando as casas que fazem parte da zona histórica do lugar. O destino seguinte é o Museu etnográfico
Can Ross, que habita uma antiga casa payesa (camponesa) que mostra como os ancestrais viviam na ilha. Há mais de um quarto de século a preservar o património cultural autóctone, ali pode admirar-se o vestuário antigo, que talvez possa ter inspirado o mood hippie chique. Destaque especial para as alpercatas, calçado usado há centenas de anos pelos agricultores de Ibiza. Entre outras atracções, Santa Eulària tem o maior mercado hippie da ilha. Colorido, musical, daqui pode sair-se trajado para a praia ou para a noite de acordo com o programa. Igualmente abençoadas, as praias são outro chamariz do lugar. Umas mais urbanas, onde aquela imagem paradisíaca de uma rede debaixo de um guarda-sol não é miragem.
Mas Ibiza é muito mais que praia, e para tirar o cansaço de uma noite mal dormida nada melhor do que uma sessão de Spa no Agroturismo Can Curreu, em Sant Carles de Peralta, seguido de um almoço leve.
Sem vista para o mar, Santa Gertrudis de Fruitera merece visita. Esta aldeia no interior, com casinhas brancas, é dos sítios mais exclusivos da ilha e vale pena lá passar para ver como param as modas. O superlativo da extravagância mora na loja S.Luiz. Um armazém cuja filosofia é encher casas e corpos de cor e humor. Com objetos de decoração e vestidos que nos deixam boquiabertos, a loja reclama ter ainda o restaurante mais “animado” da ilha. Aliás, Santa Gertrudis pode ser um problema para a carteira, já que as lojas de artesanato e restaurantes primam pelo bom gosto. Este espírito livre característico de Ibiza sente-se em casa a bordo do barco do Eclipse Eivissa. Ao leme está o comandante Juan Carlos Costa, que cozinha, guia e cuida para que tenhamos a viagem mais divertida das nossas vidas. A temperatura e a transparência da água ajudam.
Ir a uma prova de vinhos antes do meio dia ou fazer uma aula de ioga numa plantação de aloé vera são atividades habituais em Ibiza. Mas há uma que, apesar de cair no cliché, poderá ser o apontamento memorável de uma viagem. A hora mágica em que o sol se esconde no mar. A passagem de mais um dia assinala-se na esplanada do Hostal de La Torre. Entre tapas e cañas o sol desce devagarinho até à linha do horizonte, a música pede que brindemos com alegria e sorrisos. Definitivamente a tristeza não cabe em Ibiza. Pelo menos aos que estão lá de passagem.
Àmare Beach Hotel Ibiza
A premissa “adults only” diz muito sobre o hotel em Sant Josep de sa Talaia. Festa e descompromisso são palavras de ordem nesta casa, ideal para despedidas de solteiro, ou de casado. O rooftop tem um outdoor com o lema “let´s chill together”. Façamo-lo com ganas.
Carri Bell Vell
Desde o século XVII que este restaurante mete as mãos na massa. Hoje serve sabores antigos com uma roupagem contemporânea. Para noites de calor a esplanada apetece. Acompanhe com um vinho estupidamente gelado.
Adega de viños Can Rich
São 17 hectares de vinha onde não entra pesticida. A quinta produz vinhos biológicos com as castas: merlot, monastrell, syrah, cabernet sauvignon e tempranillo para tintos, e chardonnay, moscatel e malvasia para brancos. A enóloga Blanca Raventós fala dos vinhos como se fossem os seus bebés. A quinta produz também azeite, ervas aromáticas. A cereja no topo do bolo é o digestivo de 17 hierbas ibicencas com que brindámos na despedida.
Ibizaaloe
Cesar Mayol Serra faz uma visita guiada nesta plantação de aloé vera. A planta é mais antiga que a bíblia e mencionada nesta. Usada por Alexandre, o Grande, alivia artroses, artrite, picadas, queimaduras, entre outras maleitas.