Nasceu no Algarve, mas com apenas 32 anos, Vanessa Barragão já conquistou o mundo com a sua arte de criar tapeçarias únicas, nas quais técnicas ancestrais e artesanais, a partir de desperdícios têxteis, se fundem em obras extraordinárias. Em entrevista, a artista fala-nos sobre a o processo criativo e a essência das suas peças, que podem ser encontradas em Londres, Japão, Austrália e Estados Unidos, nomeadamente na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Como foi o seu percurso até alcançar esta projecção internacional?
Comecei o meu trabalho quando ainda estava na faculdade, a estudar design de moda. Sempre que criava algo novo, mostrava todo o processo na página de Instagram que tinha criado para promo-ver o meu trabalho e, aos poucos, fui alcançando mais público. Foi um processo muito natural, con-fesso que nunca pensei que este trabalho, que tanto prazer me dava, se tornasse naquilo que hoje faço a tempo inteiro.
O que a fez despertar para as técnicas artesanais e ancestrais tão presentes nas suas obras?
Acredito que isso me foi passado pela minha família. Ao crescer a ver os meus avós a criar com as suas próprias mãos, despertou em mim esta paixão pelas técnicas manuais, que hoje são a base do meu trabalho.
O que mais influencia esta visão única que o seu trabalho oferece da sustentabilidade? Acredita que a arte pode ser um agente de mudança, ou pode ter o poder para despertar uma consciência ambiental?
Sim! A arte tem o poder de despertar. Acredito ple-namente nisso e esse é um dos motivos pelos quais eu luto através da minha arte. Toda a minha obra é inspirada pelo fundo do mar e no que está a acon-tecer aí, causado pela poluição criada pelo ser humano. Através da reciclagem de materiais e do uso de processos artesanais de produção, podemos, de facto, ajudar a reduzir a nossa pegada ambiental.
Qual foi a exposição que mais a marcou?
Foi quando instalei a tapeçaria “Botanical” no aeroporto de Heathrow. Foi o primeiro grande trabalho que fiz e que foi exposto num lugar tão importante.
E a peça cuja criação mais a desafiou?
Foi também a peça Botanical. Nessa altura tinha um atelier relativamente pequeno e esta peça era gigante! Demorou cerca de 6 meses a ser feita e isso fez dela a peça mais importante para mim… criei uma ligação muito forte com esta obra.
Afirma que “o processo de criação é lento e requer paixão e dedicação. É orgânico e espontâneo, com resultados imprevisíveis”. Esta “filosofia” de trabalho também se confirma nas encomendas?
Em algumas sim, quando o cliente me dá abertura para tal. Noutros casos tenho de apresentar dese-nhos onde mostro as cores e as formas que irei utilizar, mas algo muito básico. Desta forma, consigo sempre adoptar o meu método de trabalho orgânico e espontâneo, seguindo apenas algumas directrizes.
Que papel tem a sua família no contexto da “natureza” que a rodeia e que a inspira?
A minha família é parte integrante da minha equipa. Inspiraram-me e fizeram de mim a artista que sou hoje, sem eles provavelmente seria outra coisa. Por tudo isto faço questão, desde o início, que eles estejam integrados na minha equipa. Poder ter a minha família, onde incluo a minha mãe, irmã, pai e avós, ao meu lado a criar, é das coisas que mais adoro, e considero que o meu trabalho é também fruto da dedicação deles, desde sempre.
Que lugares secretos acolhem os seus sonhos e os seus projectos antes de os levar para o estúdio?
A minha imaginação floresce de formas inespera-das… surgem-me imensas ideias quando estou mergulhada na natureza. Esse contacto é muito importante para a minha criatividade.
O que nos conta a sua poesia?
Eu procuro mostrar o quão lindo e mágico é o nosso planeta e a importância de o preservarmos. O nosso vínculo com a natureza faz parte da nossa essência, mas com o ritmo de vida que levamos e com a degradação do planeta, esta ligação tende a perder-se. O meu trabalho tenta trazer este vínculo para a casa das pessoas, trazendo a conexão e a lembrança de que a natureza é parte da nossa essência.
O mundo abriu-lhe as portas. E em Portugal, que convite gostaria de receber para expor ou para criar uma peça especial?
Adorava um dia poder expor no Maat, com uma ins-talação de obras suspensas que nos convidam a mergulhar num mundo subaquático criado por têxtil.