A propósito da exposição comemorativa do aniversário da Vacheron Constantin, Christian Selmoni, Style & Heritage Director da Maison, partilhou com a Turbilhão o que significa dar continuidade a uma das mais antigas marcas de Alta Relojoaria, e fazê-lo com um olhar simultaneamente reverente e inovador.
Ao celebrar 270 anos de história, a Vacheron Constantin evoca não só o tempo decorrido, mas a contínua demanda por sentido, beleza e precisão, um ritmo que pulsa entre passado, presente e futuro. Neste contexto comemorativo, a Maison esteve em Lisboa, no Palácio de Tancos, com a exposição “The Quest: 270 Years of Seeking Excellence”, uma ode imersiva ao legado relojoeiro da mais antiga manufactura em actividade ininterrupta.
E foi nesta ocasião que Christian Selmoni recebeu a Turbilhão para uma conversa que mais parece uma viagem ao âmago da relojoaria. É o Director de Style & Heritage da Vacheron Constantin, mas a sua postura é quase a de um guardião — alguém que zela por um legado tão vasto quanto precioso.




“A história da Vacheron Constantin não é apenas longa. É rica. E mais do que olhar para ela como um peso, vemos nela uma bússola”, afirma. Desde 1755, a casa suíça move-se ao ritmo de uma demanda — ou quest, como o próprio Selmoni gosta de sublinhar — pela excelência estética e técnica. “Essa busca é o que dá sentido ao nosso trabalho. Cada criação é um passo nessa direcção.”
A exposição em Lisboa — estruturada em capítulos como “The Beginning”, “Artistic Crafts and Finishes” e “High Watchmaking and Grand Complications” — é uma celebração da mestria relojoeira, das grandes complicações e dos métiers d’art que definem a identidade da Maison. Mais do que um espólio, trata-se de uma experiência que culmina na apresentação das mais recentes criações da marca reveladas na Watches & Wonders.

Entre essas criações recentes, destaca-se a extraordinária Les Cabinotiers – Solaria, apresentada este ano como a mais complexa peça de pulso alguma vez feita pela marca. Com 41 complicações e 1521 componentes, é uma verdadeira constelação mecânica, uma peça única que condensa o espírito da Vacheron Constantin: domínio técnico, miniaturização extrema e uma elegância que nunca é ostensiva. “O nosso objectivo não é surpreender com números, mas com harmonia”, sublinha.
Durante a entrevista, Selmoni partilha o fascínio pelo calibre 2755, o papel dos arquivos históricos no desenvolvimento contemporâneo da Vacheron Constantin, e a forma como o estilo evolui sem nunca trair a herança estética da casa. “O nosso compromisso é com a continuidade; não fazemos réplicas do passado, mas transportamos o seu espírito para o presente.”
O Director de Style & Heritage fala ainda da importância da preservação, da ligação emocional que certos relógios criam com os coleccionadores, e do papel que a cultura e as artes desempenham na abordagem relojoeira da Vacheron Constantin. As colaborações com instituições como o Louvre, o Metropolitan Museum of Art ou o Palace Museum de Pequim reflectem essa ligação entre tempo e arte. “Trabalhar com instituições culturais obriga-nos a compreender profundamente o passado, e isso, paradoxalmente, prepara-nos melhor para o futuro.” Essa relação é simbiótica: os mestres esmaltadores, gravadores e relojoeiros da Vacheron Constantin dão nova vida às obras de arte, ao mesmo tempo que perpetuam técnicas ancestrais de um valor incalculável.
Com palavras pausadas e gestos contidos, Christian Selmoni transmite uma visão da Alta Relojoaria como uma arte paciente, que exige escuta, como o ritmo do próprio coração de um calibre. E é justamente essa cadência, feita de precisão e paixão, que a Vacheron Constantin celebra neste marco histórico. Não como um fim, mas como mais um compasso numa sinfonia em constante composição.