Fotos: João Almeida
Entre o rigor da tradição e a subtileza da inovação, o Duro nasce no coração de Lisboa como um tributo exigente à cozinha clássica, onde o sabor fala sempre mais alto.
Por entre os ecos da Lisboa boémia de outros tempos, ergue-se o Duro – um restaurante onde o classicismo encontra a modernidade com uma elegância sóbria, mas decidida. Situado no coração da capital, no Boqueirão do Duro, este novo espaço do grupo Attifood impõe-se com carácter e uma filosofia que, à mesa, não faz concessões: aqui, o sabor é rei.





Fomos recebidos para almoço por Francisco Nobre, um dos sócios da casa, que nos acolheu com a naturalidade de quem está, mais do que a abrir um restaurante, a restaurar um conceito. “O Duro é um restaurante clássico”, afirma. “O nome significa exigência – connosco próprios, com o produto, com o serviço.” E essa exigência sente-se em cada detalhe.
O espaço, desenhado pelo Atelier Catarina Cabral, transpira luz e amplitude, com janelas generosas e um pé-direito quase teatral. Madeira, pedra natural e aço inoxidável conjugam-se num décor simultaneamente austero e acolhedor. À mesa, o serviço flui com discrição e precisão, sem pressas, mas sem falhas. Sempre aberto, sempre a servir – o Duro não fecha portas nem fogões entre o almoço e o jantar.
Na ementa, destaca-se o Menu Executivo (25€ a 30€), com propostas que variam entre o Brás de bacalhau fresco e um delicado ravioli de cogumelos trufados. Uma solução prática para os almoços da semana, sem abdicar do rigor e do prazer. Mas é nos pratos de assinatura que o Duro revela a sua alma.
O chef Sandro Farinho, que também dirige o Yuppie na Avenida da Liberdade, propõe uma cozinha “clássica/moderna”, nas suas palavras. Pratos emblemáticos são finalizados na mesa – como o tártaro de novilho, montado com precisão perante o cliente – ou ganham protagonismo cénico, como o Chateaubriand cozido em argila. Uma provocação elegante, um “novo clássico”, onde “a simplicidade é o maior desafio”.
A carta de cozinha é vasta, com forte inspiração na tradição lisboeta dos anos 40 e 50, mas pontuada por ecos franceses e espanhóis: do polvo à galega ao arroz de forno com robalo e gambas, da barriga de leitão crocante ao foie gras mi-cuit. O couvert, simples mas cuidado, abre o apetite para uma viagem onde o produto é sempre o centro – uma verdadeira “alcofa de sabores”, como descreve Francisco.
Aos domingos, impõe-se a tradição: o Cozido à Portuguesa é servido à discrição, sem cerimónias, mas com toda a dignidade que o prato exige. E à noite, a casa anima-se com a presença de DJs, num ambiente que mistura o classicismo gastronómico com uma certa irreverência contemporânea.
A carta de vinhos não fica atrás. Um compêndio nacional, com incursões pontuais ao estrangeiro, reúne referências como o “Da Pedra Se Fez Espumante” dos Açores, ou o “Cerca dos Frades Blend” do Pico, revelando um cuidado notável na curadoria e um profundo respeito pela origem.
O Duro não é apenas mais um restaurante. É uma afirmação. Uma ode aos sabores intemporais, mas sem nostalgia vazia. Aqui, a tradição não é um peso, é uma bússola. E isso, nos tempos que correm, é um luxo raro.
Morada: Rua Dom Luís I, 32, Lisboa
Horário: Terça a domingo, das 12h00 à meia-noite (sexta e sábado até às 02h00)
Reservas: 926 472 698