O Duplo Turbilhão surge como um plus em relação à complicação maior da relojoaria, o turbilhão. Mas porquê e para quê? A resposta talvez esteja na necessidade imperiosa de trazer criatividade técnica a um universo para o qual se deseja um futuro interessante e dinâmico.
Para explicar o duplo turbilhão há que regressar atrás no curso dos desenvolvimentos mecânicos da relojoaria e lembrar o turbilhão. Segundo o léxico relojoeiro, trata-se daquele dispositivo mecânico destinado a melhorar a precisão dos relógios de corda, que actua contrabalançando as perturbações de isocronismo do balanço provocadas pela força da gravidade terrestre. A invenção, como se sabe – mas nunca é demais recordar -, deve-se a Abraham-Louis Breguet, relojoeiro suíço extremamente dotado e criativo.
Recuar a Breguet, que viveu entre 1747 e 1823 é, pois, voltar a um tempo em que a proeza do mecanismo, embora resultado de uma solução ainda hoje considerada de ampla complexidade, residia na redução dos efeitos de gravidade fazendo girar o balanço e o escape sobre eles próprios. Como? Através de uma gaiola contendo o conjunto regulador do relógio, levado a efectuar uma volta completa num minuto.




A obra de Breguet não foi apenas resultado de uma experimentação solitária. Numa Paris que aguardava com impaciência maravilhar-se com o aparecimento de novas invenções, o encontro com a «nata» da Ciência gerou fruto e esteve na base de futuras invenções. Movido pela busca do movimento perpétuo perfeito, o relojoeiro cruzou as suas investigações com teorias da física para as conciliar com a mecânica relojoeira.
De acordo com a proposição de Breguet, na qual assenta a sua invenção, a corda do relógio difere na posição vertical em que é observado. O efeito gerador da diferença provém sobretudo do desequilíbrio do balanço e da espiral.
A fim de compensar estas diferenças e alcançar o movimento perfeito, torna-se necessário que o centro de gravidade do sistema balanço-espiral esteja no âmago da rotação e aí permaneça durante as oscilações.
Para alcançar este objectivo, Abraham-Louis Breguet concebe um mecanismo capaz de atribuir ao conjunto escape-balanço todas as posições possíveis. Assim, impõs a este mecanismo a rotação por ele definida de uma volta por minuto, através da qual obteve uma fusão de posições verticais a caminho de uma marcha média, supostamente de equilíbrio. Digamos que o mecanismo não tem a pretensão de eliminar essas diferenças, mas reduzir os seus efeitos por uma compensação integral.

Esta é a história longínqua. Nesse tempo usavam-se relógios de bolso, mais recentemente os relógios de pulso também acolheram o turbilhão. De então para cá, a trajectória desta delicada complicação da relojoaria mecânica sofreu evolução, mas permanece como um tema a que os relojoeiros regressam recorrentemente, tudo levando a crer que ainda não está esgotado aos olhos dos técnicos. Em particular nas últimas décadas, a atenção das marcas voltou-se para o turbilhão, com um renascer do interesse e valorização do relógio mecânico, oferecendo-se novos ângulos de abordagem do mecanismo de compensação.
É nesta geração que surge o duplo turbilhão, na perspectiva de uma necessidade vincada de dotar a relojaria de hoje um mundo de criatividade, importante ferramenta para encarar o amanhã com entusiasmo.