Na pitoresca vila da Camacha, na Madeira, a Quinta da Moscadinha emerge como um símbolo do renascimento da sidra artesanal. Sob a visão de Márcio Nóbrega, este projecto resgatou uma tradição centenária, revitalizando pomares esquecidos e elevando a sidra madeirense a novos patamares de qualidade e reconhecimento internacional. Entre inovação, hospitalidade e um forte laço com a cultura local, a Quinta da Moscadinha é hoje um destino obrigatório para apreciadores de experiências autênticas.
Situada na vila da Camacha, na Madeira, a Quinta da Moscadinha é um verdadeiro símbolo da harmonização entre tradição e modernidade. Com uma história que remonta ao século XIX, esta propriedade foi renomeada em 2019 por Márcio Nóbrega, actual responsável pelo projecto, em homenagem ao licor de ervas Moscadinha, uma receita familiar carregada de simbolismo. No entanto, a Quinta ganhou especial notoriedade pelo seu papel na revitalização da produção de sidra na região, resgatando uma tradição que remonta a mais de cinco séculos.
O percurso da Quinta da Moscadinha na sidricultura nasceu de um inesperado confronto com a história e a identidade da região. "Quando adquirimos a Quinta, a nossa ideia inicial era apostar no turismo rural. No entanto, ao fazer algumas obras, tivemos de remover algumas macieiras antigas. Rapidamente percebi que estava a tocar num património valioso para a comunidade local", explica Márcio Nóbrega.
A Camacha sempre foi conhecida como o "pomar da Madeira", sendo histórica a produção de sidra na ilha. No entanto, com as mudanças geracionais e a vaga migratória para o Brasil e Venezuela nos anos 50, muitos dos pomares foram abandonados. "Ao perceber o impacto cultural e económico da sidra na região, decidi abraçar este desafio e transformar a Quinta num polo de renascimento desta tradição", afirma o responsável.
A revolução na produção de sidra
A estratégia adoptada por Márcio Nóbrega foi clara: valorizar o produto e os agricultores locais. "Perguntei-me: porque é que se faz vinho com as melhores uvas, mas a sidra continua a ser produzida com as piores maçãs?" Esta reflexão levou a uma abordagem inovadora, incentivando os produtores locais a apostarem na qualidade. "Passámos a pagar melhor pela melhor maçã e isso teve um impacto imenso. Os agricultores voltaram a cuidar dos seus pomares e, com isso, revitalizámos mais de 3.000 árvores."
Este trabalho não passou despercebido. Em 2024, a sidra da Quinta da Moscadinha foi reconhecida nos prestigiados 'Cider World Awards' em Frankfurt, arrecadando quatro medalhas de ouro, duas de prata e uma medalha de honra. Além disso, o projecto foi destacado em Bruxelas como um dos 24 melhores projectos europeus com impacto social e económico local.
O crescimento do sidroturismo
A Quinta da Moscadinha não se limita à produção de sidra, apostando também no turismo ligado à sidra. "Neste momento, recebemos cerca de 100 pessoas por semana na nossa sidraria. Antigamente, a sidra era considerada um produto de baixa qualidade e oferecida gratuitamente. Agora, os visitantes pagam para conhecer o processo de produção e provar uma sidra genuína e refinada", sublinha Nóbrega.
Para além das visitas guiadas, a Quinta oferece uma experiência imersiva, onde se pode explorar os jardins adornados por árvores centenárias, caminhar pelo pomar de macieiras e, claro, degustar sidra artesanal.
Integrado na Quinta, o restaurante "Adega do Pomar", da responsabilidade do Chef Dúlio Freitas, é outro ponto de destaque. "Não quisemos criar apenas mais um restaurante típico madeirense. Decidimos oferecer uma viagem gastronómica por todo o país, trazendo pratos icónicos como a cabidela minhota, o leitão à Bairrada e os peixes frescos do Algarve", revela o Márcio Nóbrega. A ementa varia consoante a época do ano, garantindo ingredientes frescos e sabores autênticos.
Projectos futuros
O projecto da Quinta da Moscadinha continua a evoluir. "A nossa próxima etapa passa pela construção de 10 novas vilas dentro da propriedade, oferecendo mais opções de alojamento aos visitantes. Para além disso, estamos a planear a ampliação da nossa adega, pois já esgotámos a nossa capacidade actual. Se tivéssemos 100.000 garrafas de sidra, teríamos vendido todas", revela Márcio Nóbrega.
O sucesso da Quinta da Moscadinha não se resume a uma estratégia de negócio bem-sucedida. Para Márcio Nóbrega, a ligação à Camacha é muito mais do que comercial, é emocional. "A Camacha sempre teve um papel central na cultura da Madeira. Cresci com memórias de passeios de domingo por estas terras. O meu investimento na Quinta foi movido pelo coração, e ver este projecto florescer é uma realização pessoal."
Com uma combinação perfeita de tradição, inovação e paixão, a Quinta da Moscadinha está a transformar-se numa referência incontornável na Madeira. Entre a sidra artesanal premiada, a gastronomia de excelência e a hospitalidade inigualável, este é um destino que convida a descobrir e a brindar às boas tradições reinventadas.
