Namorar em tons de azul, longe do bulício do centro da cidade, é a grande mais valia do Palácio do Governador. Um carismático edifício cheio de história(s), onde o clássico e o moderno se mesclam com distinção e bom gosto. A recente remodelação de interiores tem assinatura da decoradora madeirense Nini Andrade e Silva.
Ronnie tem quatro anos e meio e “vigia” as malas dos donos na capela/lobbie do Palácio do Governador. A impaciência deste cãozinho, de raça cavalier king charles spaniel, diz que está pronto para apanhar o avião de volta para Tallin, capital da Estónia. Nómadas digitais, Lena e Alexei estão encantados com a forma como o seu animal de estimação foi tratado nesta casa. “Não é preciso trazer nada, têm cama, ração e biscoitos." Vítor Horta, subchefe de recepção, salienta que os gatos também são bem-vindos. Mas o Palácio do Governador é muito mais do que um hotel “pet friendly.”
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Situado na zona de Belém, uma vez lá dentro rapidamente nos esquecemos que se está numa cidade cosmopolita, movimentada e às vezes até parada pelo trânsito. A viagem no tempo é inevitável. Com uma história que remonta ao século XVI, este hotel de charme leva-nos para a época das descobertas marítimas. O nome deve-se a ter sido morada, durante décadas, do governador da Torre de Belém. Não será por acaso que ainda conserva vistas excepcionais para o rio e para a Torre, sobretudo a partir dos quartos que ficam na mansarda. Mas a história não se fica por aqui, as suas fundações revelam a passagem dos fenícios e romanos.
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De volta ao presente é impossível esquecer o passado quando, por todo o lado, nos vemos rodeados de painéis de azulejos setecentistas. Tendo como premissa o azul e branco da época, a intervenção da decoradora madeirense Nini Andrade e Silva vem também homenagear a presença portuguesa no oriente, com faianças inspiradas na companhia das Índias. Complementa esta homenagem às descobertas o restaurante Po Tat. Po Tat é uma variação do pastel de nata em cantonês e, de facto, quer à entrada, quer à saída, fomos agraciados com esta delícia em miniatura.
O novíssimo Po Tat, que substituiu o Cânfora, pisca o olho à cozinha asiática, sem se esquecer de outras geografias. Destaque para a gamba da costa curada e harissa que, numa só garfada, vai buscar as memórias que temos do norte de África. A representar o Japão, o Donburi de beringela faz-nos ficar de olhos em bico. Tudo harmonizado com vinhos portugueses como o Alvarinho Céu na Terra. O repasto termina com o sabor inusitado da mousse de trigo sarraceno, um cereal popular na Ásia há mais de 8 mil anos.
Depois de um jantar principesco nada melhor do que dormir na generosa cama dossel do quarto da Princesa. Símbolo de serenidade, o azul marinho é quem mais ordena nesta moradia onde é fácil sonhar com abóboras transformadas em carruagens e acreditar que algures, por aí, existem príncipes encantados.
A mais feminina das três suites tem uma generosa varanda com namoradeiras de onde se avista o rio. Apesar da linha do comboio passar por ali, parece que se está numa bolha de tranquilidade. Como lembra Vítor Horta durante a visita guiada: “o hóspede que nos procura não quer a confusão do centro da cidade. E prefere esta localização pela proximidade com monumentos e Museus.”
De carácter nobre, o desenho do edifício faz-nos acreditar que ali sempre se viveu com pompa e circunstância, mas nem sempre foi assim. No século XIX o palácio chegou a pertencer a uma nobreza empobrecida. Ao longo do século XX teve várias serventias. Foi Centro de Saúde, Segurança social e até Casa dos Pescadores.
Hoje, ao olharmos os seus tectos de madeira em caixa é fácil imaginar um conto de fadas e respectivas personagens. A casa presta-se a filmagens de filmes, novelas, produções de moda, lançamentos de carros topo de gama e, quem sabe, de um relógio de marca. Este equilíbrio entre o clássico e o contemporâneo é fruto da simbiose entre os quadros do peruano Valdivia Carrasco, inspirados nos Painéis de São Vicente, que contrastam com os tectos abobadados de tijolo burro do restaurante e de alguns quartos. Ao todo são 60, com apontamentos de decor azul e branco, mas cada um com personalidade própria.
O Po Tat, por agora, só serve jantares, excepção para o brunch de domingo (54€), que é servido entre as 12h30 e as 16h. O Bar Tolomeu encarrega-se do resto. Dedicado ao navegador português Bartolomeu Dias, “cada bebida ou prato do bar narram uma história”, como conta a própria carta. Há sopas e saladas, almoços e snacks. Encarregue pelos cocktails está André Cavalheiro. O hotel dispõe também de room service disponível 24h por dia, que serve tostas, sopa e três tipos de massa, acompanhadas por água, vinho, café ou chá.
De destacar ainda o Felicitás Spa Governador, um dos ex-libris do hotel. Com 1200 m2, este espaço oferece tratamentos e massagens dos quatro cantos do mundo, e serve não só o hóspede como quem o quiser frequentar. Para mais informações contactar a recepção.
Com um menu variado de massagens, o circuito da unidade mima-nos com experiências diversas como banhos de gelo, sauna, ou um duche sensorial que através de cores e sons nos transportam para outras paragens. Por ter uma piscina aquecida a uma agradável temperatura de 30 graus centigrados, é imperativo que não se esqueça do fato de banho quando estiver a fazer a mala. Na última sexta-feira de cada mês realiza-se o Spa by night, um acontecimento que oferece a possibilidade de se mergulhar num relaxamento profundo fora de horas (entre as 21-24h).
O hóspede do Palácio do Governador costuma regressar, observa Vítor Horta. O serviço, a privacidade, o facto de tentarem satisfazer os desejos de quem os procura são os grandes atributos da casa. Histórias com hóspedes há muitas, mas a mais inverosímil foi terem pedido um helicóptero para sobrevoar um campo de golfe, “só para ver se estava ou não em condições”. Noblesse oblige.
Palácio do Governador | Rua Bartolomeu Dias, 117. Lisboa | +351 213 007 009 | www.palaciogovernador.com