A Turbilhão foi a um jantar vínico guiado pelo enólogo Francisco Ferreira no Bougain Restaurant and Garden, em Cascais. A combinação entre os vinhos da Quinta do Vallado e os pratos escolhidos pela chef Diana Roque fez deste momento um autêntico festim gastronómico para todos os sentidos.
Cascais, noite de Primavera, brisa suave. A empregada de mesa, Dalva, faz espirais douradas com o azeite da Herdade do Esporão. Azeite onde molharemos o pão de fermentação lenta, a que todos teremos dificuldade de resistir. À média luz, o jantar promete. O ambiente é aconchegante, a música de fundo e a expectativa do que se passará a seguir colocam os cinco sentidos em “atenção plena”.
Para os mais distraídos, Francisco Ferreira é tetraneto da lendária Maria Antónia Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha. Num jantar vínico harmonizado com vinhos da Quinta do Vallado seria uma gafe não falar desta mulher que “fez tanto pelo desenvolvimento do Vinho do Porto e, naturalmente, da região do Douro vinhateiro.”
Construída em 1716, a Quinta do Vallado foi adquirida pela família Ferreira em 1818. Durante o seu “reinado” como produtora de vinho do Porto, a empresária Antónia Ferreira mandou construir estradas, escolas e igrejas sem nunca esquecer quem trabalhava nas suas terras. “Era uma mulher fora do seu tempo. Dedicou a sua vida aquela região numa altura em que era difícil viver no Douro.”
É esta justa homenagem que o enólogo lhe faz quando apresenta o primeiro vinho do repasto: o Vallado Reserva 2023. “Um vinho elegante, estruturado e fresco”. Um vinho que casa na perfeição com o primeiro prato da noite: Lírio curado, pickles de rábano, mostarda e leite de tigre. “O leite de tigre é feito por nós”, revela a chef Diana Roque. Aliás, a expressão “feito por nós” será repetida muitas vezes ao longo da noite, o que só dará boas notas ao Bougain Restaurant & Garden Bar em Cascais.
Situado no coração da vila, este espaço é um lugar de rara beleza. De um lado a arquitectura da casa centenária, do outro o luxuriante jardim que lhe dá nome. O segundo momento da noite acontece com o Lombo de bacalhau, broa, tapenade de azeitona, coentros e molho pil-pil. Vem acompanhado pelo Vallado Field Blend 2021. O vinho é produzido a partir de vinhas velhas, com cerca de 90 anos. “São vinhas pouco produtivas em termos de quantidade, mas que fazem vinhos de alta qualidade”, explica Francisco Ferreira. Assim nasce um vinho redondo, de grande equilíbrio. “É um vinho versátil que tanto funciona no Inverno como no Verão”, explica o enólogo do Vallado.
Já o segredo do sabor irrepreensível do prato é desvendado pela chef: “o truque é comprar caras de bacalhau.” Entre as degustações de cada prato, o anfitrião dos vinhos reconhece a sorte que tem de, através do enoturismo, poder mostrar as paisagens do Douro e fazer esta “parceria feliz entre vinho e hotelaria”.
Francisco Ferreira convida os comensais a conhecer o Wine Hotel Casa do Rio, em Foz Côa, um prolongamento do projecto ecoturístico da Quinta do Vallado. À mesa, o senhor que se segue é um Bife Rossini com Foie gras e Trufa, um prazer inusitado já que o prato não consta da carta actual.
O bife vem de braço dado com o Vallado Vinha da Coroa 2022. Nas palavras conhecedoras de Francisco “esta vinha está virada a norte, no cimo da montanha e por isso tem taninos mais frescos”. O bife é tenro como poucos, mas dá ao foie o protagonismo pretendido.
Como as cerejas, as conversas passam do vinho para as viagens, das viagens para a vida dura dos habitantes do vale escarpado do rio Douro e de novo para o vinho.
Sabia que a temperatura ajuda a mudar a percepção de um vinho? Esta aula de luxo já serviu para quando se abrir a próxima garrafa termos isso em atenção.
Receita mais que caseira, o Tiramisù tem assinatura da chef e com o Vallado Tawny 30 anos explode na boca. Diana Roque dirá que todos os pratos que desfilaram na mesa “combinam muito bem com os vinhos” e de facto são sábias as suas palavras.
Os vinhos foram servidos por Tomás Carvalho, embaixador da Quinta do Vallado em Lisboa.
